Vida no futuro: um presente do meu passado e como me organizei financeiramente para 2060

vida no futuro e organização financeira

Oito horas da manhã. Acordo com o som de sinos. A luz solar entra aos poucos com as persianas abertas automaticamente. Toco duas vezes no criado-mudo para pausar o alarme e me levanto da cama.

Ao entrar no banheiro, informações no espelho digital avisam que hoje será um dia ensolarado. Começo a minha rotina de informação diária ao colocar lentes digitais nos olhos, com nanotecnologia suficiente para identificar o que observo e mostrar os dados à minha frente. Tomo um banho a vapor e uma notificação da agenda aparece no box de vidro, me sugerindo comemorar o dia. Estou finalmente aposentado.

Seis décadas se passaram após a virada do milênio. 2060 foi o ano planejado para a minha merecida aposentadoria. Na época, eu era só um rapaz com vinte anos descobrindo o mundo financeiro através de inúmeras siglas, termos e números chatos. Além dos meus pais, alguns eventos da empresa e blogs de negócios começaram a martelar em minha cabeça a necessidade de um planejamento financeiro. Hoje, compreendo que esse martelo foi essencial para construir o meu futuro.

Independência, para mim, era apenas sair da casa de meus pais, trabalhar, casar e ter uma família.

Ledo engano.

Corrida pela independência financeira

Independer financeiramente era fazer o dinheiro trabalhar pra mim sem precisar estar empregado. Daí eu percebi o quanto estava distante da realidade. Só fui me tranquilizar ao estudar sobre investimentos. As tantas siglas, termos e números chatos são muito pequenos comparados às oportunidades através deles. Com a ajuda de um consultor, identifiquei pontos críticos nos gastos, marquei alternativas e tracei metas para melhorar a condição do meu bolso. Aliás, vou até dar uma olhada nas minhas finanças aqui para saber no que posso mexer agora que me aposentei.

Na cozinha, um aviso eletrônico me informa a falta de queijo na sanduicheira automática. Preencho o estoque com cheddar, meu preferido. Ao acessar o resumo financeiro enquanto espero o sanduíche ficar pronto, me vem uma sensação nostálgica. Muita coisa aconteceu durante todos esses anos. Muita coisa mudou. Minha planilha foi atualizada diversas vezes — não só os dados como a própria relação de tabelas.

Com a maturidade vem a mudança de mentalidade

Quando era jovem, achava que todas nossas decisões eram definitivas. Isso me fazia ter medo de avançar, de arriscar, de ir em frente. Porém, quanto mais enfrentamos esse medo, mais aprendemos que tudo muda. Tudo se ajeita. Tudo se encaixa de alguma forma. Nós subestimamos a capacidade do ser humano de adaptação. Nada é definitivo justamente porque somos uma metamorfose ambulante. Sempre nos moldamos às situações. Para controlar o mínimo do nosso futuro, portanto, é preciso moldar em nós mesmos a mudança que queremos ter à frente. Claro, não é algo fácil quando se sonha grande. Mas em cada passo nós conquistamos uma parte do caminho.

Por falar nisso, vou aproveitar o primeiro dia de aposentado para caminhar na praça. Calço meu tênis autorregulável e grudo um adesivo digital no peito para monitorar minha saúde. Saio de casa deixando-a em modo vazio — assim, todos os sistemas elétricos e hidráulicos são desligados e protegidos.

Primeiro dia de aposentadoria

A praça continua linda e verde. A nostalgia volta a mim ao ver duas crianças apostando corrida com seus hoverboards. Lembrei-me de quando meu pai me mandava usar joelheira, cotoveleira e capacete ao andar de skate. No início, eu nem obedecia. Depois de tantos machucados e frustrações, decidi usar. Nesse momento, percebi que sentir-me protegido dava facilidade para seguir em frente e arriscar objetivos maiores. Consegui encaixar muito mais manobras. Esse aprendizado me fez entender como planos de seguro são importantes para avançarmos financeiramente. Quanto mais protegida é a queda, maior é a altura do salto.

“300 calorias gastas. Você concluiu seu objetivo” — a notificação, com um emoticon feliz, surgiu à minha frente. Parei por uns segundos, contemplando drones no céu. Muito mais do que 300 calorias, eu havia concluído todo o meu objetivo de vida. Meus filhos estão seguros. Meus netos também.

Se me perguntarem se valeu a pena esperar, farei questão de esclarecer que nunca esperei. Vivi o máximo de mim durante todo esse tempo. Planejar o futuro não é algo que fazemos num momento e esperamos acontecer.

Planejar o futuro é algo contínuo. Um curso constante. É um presente aberto várias vezes por meus “eus” do passado.

Mesmo agora em 2060 ainda não temos tecnologia para voltar no tempo. Mas se pudesse me comunicar com o rapaz de vinte anos que estava confuso com tantas siglas, termos e números chatos, eu diria:

— Obrigado.

Por Danilo Freitas

Entusiasta de toda e qualquer manifestação artística, Danilo Freitas é um soteropolitano morando no Rio. Escreve e ilustra por hobbie. Faz uma pós-graduação em Marketing e Design Digital na ESPM. Trabalha como Analista de Marketing na Mongeral Aegon e, apesar de adorar novidades digitais, preocupa-se com as complicações que a tecnologia pode promover às relações humanas.