No dia 1º de janeiro de 2015 decidi lançar um novo desafio para mim: produzir menos lixo! Na verdade, esse desejo começou muito antes, lá em 2012, quando assisti ao documentário “Trashed: para onde vai nosso lixo”, que mudou a minha vida. No filme, o ator norte-americano Jeremy Irons percorre o planeta tentando descobrir para onde vai o nosso lixo. Na época fiquei muito indignada com a situação do planeta e as consequências do nosso uso tão despreocupado dos recursos naturais que nos são oferecidos de forma gratuita e, ainda abundantes (em alguns casos não mais).
AHA: descobri!
Hoje percebo o que aconteceu: foi um “momento AHA”, como chamam alguns, ou aquele estalo que acende uma luz na consciência indicando que alguma coisa precisava mudar. E saí do filme determinada a produzir menos lixo, porque se o planeta está entupido de resíduos é porque nós, cada um de nós, inclusive você que está lendo este texto agora, colocou esses resíduos lá. Triste e simples assim.
Primeiro acende a luz, depois vem a ação
Iniciei então um processo de análise da minha vida: tudo o que eu comprava, usava e descartava. Eu queria muito mudar, mas ainda não estava disposta a fazer nada radical, como parar de andar de carro, por exemplo (emissão de gases de efeito estufa, aquecimento do planeta, mudanças climáticas, ufa!), mas afinal de contas moro no Rio, que é violento, não tem metrô perto, e todas as desculpas que a gente dá quando quer mudar alguma coisa, qualquer coisa, mas tem preguiça. Pensei, pensei, e vi que o caminho para mim seria o plástico, sim, porque me arrisco a dizer que o plástico é o pior lixo que podemos produzir hoje. Tanto por sua quantidade quanto por seu péssimo uso, pelo descarte, pelo tempo que leva para se decompor, mas isso por si só, rende um outro texto… E achei: copos descartáveis. O nome mesmo já diz, você usa e … descarta! Tá aí, descobri no meu dia a dia um lixo que pararia de gerar.
Quando o seu “momento AHA” vira o do seu coleguinha também
Lembrei-me de quando era pequena e ia aos parques de água de São Lourenço (MG) com a família. E agi! Comprei um, na verdade 20 copos retráteis, para andar comigo na bolsa e para dar a alguns amigos, porque sabemos que uma andorinha só não faz verão. Tinha que ser portátil, e estar comigo o dia todo, em todos os lugares. Ou seja, não rolava caneca ou squeeze. Foi quando comecei a usar o copinho e a contar quantos estava deixando de descartar, ou quantos lixos a menos “euzinha” gerava. E o resultado foi assustador! Mas não só copos descartáveis: passei a PERCEBER todos os outros lixos que ainda produzia, como o canudinho, a sacolinha do supermercado, o papel, a embalagem de isopor dos legumes, caixas e mais caixas de compras, papel de seda que vem embrulhando aquela blusa de malha… E tudo isso vai para… o lixo! Temos uma relação muito engraçada com o lixo (e não só com ele, tá): se eu não vejo, não existe, Não é? Não! Não é bem assim!
E vi que todo mundo, todo mundo mesmo, que usava o copinho retrátil, passava a milagrosamente ver que sim, produzia lixo. E mais que isso, eles começavam a se importar com isso, e a mudar suas atitudes. Para se ter uma ideia, um morador de uma capital brasileira produz, em média, 1,5 kg de lixo por dia. Ao final de um ano, soma-se quase meia tonelada.
O copinho, o instrumento de transformação
Percebi que tinha na mão uma arma muito poderosa: um copo! Sim, esse objeto quase inofensivo tornou-se meu talismã do bem. E decidi sair dos meus 20 amigos e levar essa descoberta – e esse instrumento – para mais gente, pois se fez sentido para 20, poderia fazer para 100, 1.000, quiçá, 1.000.000 de pessoas.
2015, a contagem
O movimento Menos 1 Lixo surgiu em 2015 quando lancei a ideia do copo retrátil. Nosso movimento tinha site, redes sociais e um instrumento de transformação, um talismã do bem, um instrumento que só pelo seu uso, sem reflexão prévia, trazia luz para o que normalmente a gente esconde. Nesse caso, o lixo.
E resolvi contar oficialmente quantos copos eu deixaria de descartar durante um ano! O resultado foi impressionante: foram menos 1.618 copos jogados fora, até porque não existe fora. E ainda como cada copo descartável gasta, no mínimo, 500ml de água para ser produzido, além do lixo, economizei mais de 800 litros de água, mais do que uma pessoa deve beber por ano desse nosso bem mais precioso. Isso sem contar o gás carbônico do transporte dos copos que também não foi emitido, e outros resíduos decorrentes do processo.
O que mais me emocionou é que meu desafio pessoal ganhou adeptos, muitos adeptos. Amigos, celebridades, influenciadores e empresas se engajaram na campanha e começaram a produzir menos lixo também. Hoje somos 7 mil pessoas usando o copinho do Menos 1 Lixo, o que significa, por ano, uma economia de 12 milhões de copos, se cada um usar seu copinho 5 vezes por dia. E 6 milhões de litros de água que podem ser usados para outros fins, que não produzir produtos descartáveis que vão acabar nos lixões e no mar. Mas a campanha está só começando.
Por causa do meu copinho mudei a forma de me locomover. Adotei a bike como meio de transporte, passei a fazer compostagem doméstica, comprar mais produtos orgânicos, escolher de onde eu compro cada coisa, além de passar a praticar com muito mais frequência o consumo consciente. O projeto me inspirou tanto que comecei o ano de 2016 com uma decisão: minha empresa, a partir de agora, só iria atender clientes que tivessem afinidade com os conceitos pregados por mim: sustentabilidade e consumo consciente, ou, uma nova forma de enxergar o mundo e nossas relações.
Isso porque um copinho é muito mais que um copinho, foi o primeiro passo de uma transformação de vida, da minha vida, e arrisco a dizer, na vida de muitos outros que passaram a usar esse instrumento também.
Use o copinho ou ache seu “copinho” e veja a transformação acontecer. Vamos juntos criar o mundo que queremos viver, porque a mudança tem que começar de dentro, tem que começar de mim, tem que começar de você.
O copinho Menos 1 Lixo pode ser comprado pelo site menos1lixo.com.br