Advogados, médicos, dentistas, arquitetos, representantes comerciais. Quem é profissional liberal sabe como é difícil lidar com o dinheiro quando não se tem um salário fixo no fim do mês, ao contrário do que acontece com a maioria dos trabalhadores. Então, como ocorre o investimento para profissional liberal?
Por causa desse fator de imprevisibilidade, também é necessário tomar alguns cuidados na hora de investir, saber desenhar uma estratégia adequada e ficar atento aos riscos.
No texto de hoje, listamos alguns pontos que você deve observar, como a separação das contas pessoais das profissionais, a formação de um fundo de emergência e o estabelecimento de um planejamento anual. Quer saber mais? Continue a leitura!
Investimento para profissional liberal
1. Separe as contas pessoais dos negócios
Um dos principais erros cometidos por autônomos e profissionais liberais é misturar os ganhos e despesas pessoais com as movimentações do seu negócio. Por isso, um dos cuidados na hora de investir é fazer uma separação bem-definida do que pertence a cada orçamento.
A atividade do profissional liberal, seja ela qual for, tem despesas próprias, como impostos, taxas, pagamentos a funcionários, custos de aluguel, material de escritório, entre outras.
Ela também exige investimentos de tempos em tempos: médicos e dentistas precisam de novos equipamentos, por exemplo; representantes comerciais que visitam clientes costumam trocar de carro com uma frequência maior; e assim por diante.
Ao mesmo tempo, o profissional liberal também tem os custos normais de uma família, como despesas com:
• alimentação;
• saúde;
• educação dos filhos;
• contas de água;
• luz;
• telefone
• condomínio.
Além disso, há seus próprios objetivos financeiros, como aposentadoria, compra de bens e viagens de férias. Como lidar com tantas despesas? O ideal é que as duas coisas não se misturem: faça orçamentos separados para seu negócio e sua casa.
O orçamento da sua atividade financeira deve contemplar os custos, os reinvestimentos, uma reserva financeira para uma possível queda no movimento e um salário para você mesmo. Já o orçamento pessoal deve incluir as despesas da família e ser pago com a retirada do dinheiro dos negócios que foi preestabelecida.
Também é importante não se deixar empolgar em meses de muito movimento e bons resultados. Esbanjar e fazer a festa quando se tem dinheiro no bolso pode comprometer as finanças nos meses de vacas magras.
2. Faça um planejamento anual
Um dos grandes problemas financeiros que o profissional liberal enfrenta é a falta de previsibilidade de suas receitas: há meses em que o movimento é maior, e é possível ganhar mais dinheiro; em outros, a atividade cai, e fica mais difícil pagar as contas.
Entretanto, algumas variações são esperadas: há épocas do ano (como férias escolares, datas comemorativas, feriados e estações) em que o movimento pode aumentar ou diminuir, dependendo do ramo de atividade. É a chamada sazonalidade.
Por isso, o mais recomendado é fazer um planejamento anual e não apenas mensal. Assim, é possível dar conta de todas essas variações de receita com base no que foi apurado em anos anteriores, estabelecer uma média de ganhos e saber o quanto está disponível para investir.
Outra vantagem de um planejamento desse tipo é poder prever gastos anuais, como é o caso de alguns impostos, taxas e seguros de bens. Assim, você não é pego de surpresa e consegue se preparar para bancar essas despesas.
Mas como fazer um planejamento financeiro anual? É só seguir os passos abaixo. É fácil, você vai ver!
Monte ou baixe uma planilha anual de gastos
Em primeiro lugar, você precisa de uma planilha de controle financeiro. Esses registros podem ser encontrados gratuitamente na internet para baixar. Se preferir, você também pode montar uma (embora dê muito mais trabalho). Ela vai ser a base dos seus lançamentos anuais. Com conhecimentos básicos em Excel, basta inserir cálculos para fazer a soma dos valores.
A planilha deve ter 14 colunas. A primeira coluna elenca as suas despesas e os seus rendimentos. As 12 seguintes são dedicadas a cada um dos meses do ano. E a última são os totais anuais de cada despesa.
Estime seus gastos
Para estimar os gastos, você precisa fazer um levantamento de tudo que terá que pagar ao longo do ano. Comece pelas despesas fixas, que são mais fáceis de lembrar:
• aluguel;
• mercado;
• mensalidades;
• água e energia;
• financiamentos;
• gastos estimados com lazer e alimentação fora de casa;
• transporte e combustível.
Depois você precisa partir para aqueles gastos sazonais:
• compra de material escolar no início do ano;
• gastos com saúde, como exames médicos de rotina;
• IPVA;
• IPTU;
• passeios no carnaval;
• presentes em datas comemorativas, como aniversários, Natal, Dia das Mães e dos Pais, Páscoa, Réveillon.
Dessa forma, você vai ter uma visão geral de todos os gastos do ano.
Estime suas receitas
O mesmo princípio serve para os seus ganhos ao longo do ano. Para o profissional liberal, isso pode ser um grande desafio, uma vez que não há um salário fixo, e esses valores podem oscilar bastante dependendo da época.
Por isso, com base no seu histórico de ganhos e na sua experiência, determine uma remuneração pessoal mensal, levando em conta aqueles meses em que é normal haver mais ou menos entradas.
Comparando esses valores com as suas despesas, você saberá se o que entra é suficiente para cobrir seus gastos. Caso contrário, será necessário fazer mudanças.
Defina um valor para investir
Não se esqueça de separar também os valores que serão destinados a investimentos e à reserva de emergência — geralmente, deve ficar entre 20% e 30% da sua renda.
Reavalie seu planejamento todo mês
As circunstâncias mudam bastante ao longo do ano. Por isso, todo final de mês, analise novamente seu planejamento para o mês seguinte e faça os ajustes necessários. A ideia é manter o orçamento sempre equilibrado para não haver surpresas.
Registre suas despesas
O registro das suas despesas é uma ação importante para você entender para onde vai seu dinheiro. Muitos elaboram um planejamento financeiro bem redondinho, mas não conseguem fazer o dinheiro chegar até o fim do mês.
Ao anotar seus gastos, mesmo os menores, você consegue descobrir para onde vão seus recursos. Um cafezinho diário, assinaturas de serviços desnecessários ou muito entretenimento. Ao avaliar isso, será possível entender em que áreas você pode fazer modificações em seus hábitos de consumo para fazer seu dinheiro sobrar.
Esse registro pode ser feito em cadernos, notas no celular, planilhas ou mesmo em aplicativos de controle financeiro. As lojas de apps estão repletas deles. Alguns, como o GuiaBolso, até se conectam à sua conta bancária e ao seu cartão de crédito para registrar seus gastos automaticamente.
Outra dica especialmente importante para quem é profissional liberal é usar sempre um meio digital para efetuar os pagamentos, seja no crédito, seja no débito. Dessa forma, as transações ficam registradas no extrato, facilitando uma posterior análise de gastos.
3. Forme um fundo de emergência
Esta é uma recomendação geral: todo mundo deveria ter um fundo de emergência. Ele é uma reserva financeira a ser usada em caso de imprevistos, como acidentes, doenças, consertos, reparos, falências ou desemprego, entre outros.
Profissionais liberais não contam com muitos dos benefícios dos trabalhadores com carteira assinada, como férias, 13º salário, fundo de garantia e seguro-desemprego — sem falar que seus ganhos não são fixos e podem oscilar bastante. Por isso, para essa categoria profissional, ter um fundo de emergência é imprescindível.
Essa quantia deve ser suficiente para bancar seis meses de gastos, no mínimo. O ideal é que ela seja grande o bastante para sustentar a família por até um ano, já que a situação de um arquiteto ou dentista, por exemplo, é mais imprevisível do que de um funcionário com carteira assinada.
O fundo de emergência deve ficar aplicado em um investimento de baixo risco, que permita o resgate a qualquer momento sem que isso signifique perder dinheiro. Algumas sugestões são:
• a poupança;
• o Tesouro Selic;
• os fundos de renda fixa;
• CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
Essas opções são ótimas porque oferecem liquidez diária, e podem ser sacadas a qualquer momento.
4. Tenha um bom seguro de vida
A reserva de emergência é importantíssima e deve ser feita, claro, mas há outras opções para que o profissional liberal não precise recorrer ao seu dinheiro guardado. Um bom seguro de vida pode cobrir várias situações desfavoráveis e contribuir de forma decisiva em momentos difíceis.
Além de garantir uma boa quantia para o sustento da família se você vier a falecer, ele também pode pagar indenizações em casos como:
• doença grave diagnosticada;
Assim, você tem uma outra fonte de renda em cenários específicos e que, sem essa ajuda, seriam bastante complicados.
5. Cuidados na hora de investir: pense na aposentadoria
O profissional liberal deve, também, planejar-se para o futuro e estar preparado para o momento da aposentadoria.
Como o benefício oferecido pela Previdência Social não é suficiente para manter o padrão de vida na maioria dos casos, investimentos de longo prazo se tornam uma necessidade — e uma das melhores opções para isso são os planos de previdência privada.
Para quem trabalha por conta própria, a alternativa mais indicada são os planos do tipo VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).
O VGBL não permite descontar o valor aplicado na declaração anual de Imposto de Renda. Pode parecer uma desvantagem, mas isso faz mais sentido para quem não tem remunerações fixas e, por isso, não tem tanto controle sobre seu planejamento tributário.
Por outro lado, isso é compensado na hora do resgate: a base de cálculo para incidência do Imposto de Renda leva em consideração apenas os rendimentos e não o valor total.
Assim, se você aplicou R$ 500 mil ao longo da vida e acumulou uma quantia de R$ 800 mil, apenas os R$ 300 mil de juros serão tributados, o que é uma ótima forma de reduzir a mordida do leão em uma fase crucial da vida.
6. Prepare-se para as férias
O drama de todo profissional liberal são as férias. É muito comum encontrar aqueles que não conseguem tirar uma semana sequer no ano, por pura falta de planejamento. Mas saiba que ter férias não é luxo, é necessidade. Elas são fundamentais para a sua saúde e para ganhar um gás extra na sua produtividade.
Muitos que não se planejam acabam ficando doentes. Ou seja, tirando férias forçadas em algum momento do ano — e isso traz uma grande desestabilização financeira. Por isso, um dos cuidados na hora de investir é pensar não só as suas férias, mas também feriados prolongados e folgas que você poderá tirar durante o ano.
Se você for fazer uma viagem durante essas férias, reserve também o valor que será gasto. Perceba então que o planejamento é duplo:
• reservar para a redução da receita pelo tempo que você não vai estar trabalhando;
• separar o dinheiro que será gasto com transporte, pousadas, alimentação etc.
A dica é programar suas férias para aqueles períodos do ano em que a receita já costuma ser fraca, e você já teria pouco trabalho. Você poderá também separar parte da renda a cada mês para bancar a viagem, reservando esse valor em um tipo de investimento com baixo risco e liquidez diária.
7. Saiba escolher os melhores investimentos
O tipo de investimento para profissional liberal ideal vai depender muito do seu perfil de investidor e dos seus objetivos específicos. O valor reservado pode ter diferentes direcionamentos.
Por exemplo, caso o dinheiro investido seja para uma reserva de emergência, o montante precisa estar em um fundo fácil de ser acessado a qualquer momento, pois uma emergência não tem hora para acontecer. Isso significa que ela precisa ter uma alta liquidez.
O mais popular é a poupança, mas existem alternativas de investimento com liquidez diária que rendem mais — como os fundos de investimento e o Tesouro Selic.
Isso também pode se aplicar à reserva das férias. Já que é um gasto anual, esse prazo é muito curto para a maior parte das aplicações. Por isso, ter uma alta liquidez nesse caso também é interessante.
Mas se você deseja reservar para um objetivo de longo prazo, como aposentadoria ou compra de um imóvel, opte por aplicações de menor liquidez. Aqui podemos citar:
• títulos atrelados ao IPCA;
• fundos de longo prazo;
Outro fator que comentamos é o perfil de investidor. Quanto mais arriscado o investimento, mais lucrativo ele pode ser. Esse é o caso da renda variável.
A recomendação é estudar o assunto antes de mergulhar nesse universo um pouco mais arriscado. Existem diversos livros sobre investimentos que vale a pena conferir.
Se você é mais conservador, talvez seja mais interessante aplicar em títulos de renda fixa. Embora tenham juros mais baixos, trarão um equilíbrio maior entre rentabilidade e tranquilidade.
Esses são alguns cuidados na hora de investir que o profissional liberal deve tomar. É preciso estar bem-preparado para as adversidades, e essas dicas que listamos vão exatamente nesse sentido, garantindo a tranquilidade, a segurança e o bem-estar de toda a família.