Está atualizado sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China — que, muito antes do novo coronavírus, já tinha afetado duramente o mercado mundial? Sabe como o Brasil é impactado por essa nova economia global, bem como por um eventual acordo entre EUA e China? Sem mais delongas, vamos agora às respostas para essas e outras questões! Confira!
Do que se trata a guerra comercial entre Estados Unidos e China?
A disputa comercial entre Estados Unidos e China já se estende desde o início de 2018, causando desequilíbrios na cadeia de fornecimento mundial, ampliando a volatilidade dos mercados e retraindo o crescimento global. Mas como essa guerra comercial começou, até que chegássemos a uma minuta de acordo entre EUA e China?
Sob o argumento de proteger os produtores norte-americanos diante do deficit bilionário na balança comercial, o presidente Donald Trump vem anunciando, desde março de 2018, a criação ou majoração de tarifas sobre produtos importados do país asiático, o que estimularia a produção interna.
O governo chinês passou a responder às declarações com ameaças e implementação de barreiras para entrada de produtos norte-americanos.
Desde o início do embate, os Estados Unidos já impuseram tarifas de US$ 360 bilhões às mercadorias chinesas, o que foi devolvido com tarifação extra de US$ 110 bilhões do país asiático aos produtos norte-americanos.
Quais consequências da guerra comercial facilitaram o esboço de um acordo entre EUA e China?
Há muito a ser analisado por trás do acordo entre EUA e China. Um levantamento feito por economistas da Goldman Sachs, um dos mais importantes bancos de investimento do planeta, indicou, por exemplo, que o PIB de cada um dos países foi claramente afetado pela guerra comercial, com queda de 0,5% no PIB norte-americano e 0,7% no PIB chinês.
Esse último percentual, aliás, somado às dificuldades internas na economia da China, resultou no PIB mais baixo dos últimos 29 anos (que, no entanto, foi ainda de robustos 6,1% em 2019, de fazer inveja a muitos países europeus).
Não é difícil imaginar que, com uma queda vertiginosa de 8% no volume de exportações aos Estados Unidos, haveria algum impacto econômico nacional. O problema é que a China perdeu bem menos do que se esperava. E os EUA perderam bem mais do que se previa.
Antes de chegarmos ao acordo entre EUA e China, a execução do plano de retaliação ao país asiático já havia sido prometida por Trump ainda na campanha eleitoral (quando dizia que, se eleito, imporia imediatamente barreiras tarifárias de até 45% às mercadorias chinesas). Mas isso trouxe efeitos reversos.
Uma publicação feita no início de 2020 pelo jornal The New York Times revelou que a manufatura norte-americana encolheu ao seu menor nível em mais de uma década.
Já o setor de transportes também foi “nocauteado” pela guerra comercial, com o volume de fretes registrando retração de 7,9% em dezembro de 2019 (em relação ao ano anterior). Há também registros de perdas no setor de serviços e eletrônicos.
Para piorar, a China é, hoje em dia, bem diferente do país asiático subdesenvolvido da década de 1980, que necessitava de tecnologias ocidentais para desenvolver sua indústria, ou especificamente do mercado americano para escoar suas commodities.
Hoje, boa parte dos produtos eletrônicos chineses está na América Latina, na África e em países emergentes do sul da Ásia, como Índia.
Prova disso é que, apesar da derrubada de 8% das exportações aos Estados Unidos, o volume total de exportações chinesas caiu apenas 0,03% em 2019, segundo a Forbes.
Além disso, o próprio mercado asiático não pode ser ignorado pelos norte-americanos. Até o fim de 2015, os chineses haviam comprado cerca de 131 milhões de iPhones.
A Boeing, que emprega 150 mil trabalhadores americanos, estima que a China comprará em torno de 6.810 aviões nos próximos 20 anos, o que totaliza US$ 1 trilhão em negócios. Todo esse contexto está por trás do acordo entre EUA e China.
O que prevê o acordo comercial entre Estados Unidos e China?
O presidente Trump e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, assinaram, em 15/1/2020, a fase 1 do acordo que promete colocar fim à guerra comercial entre os dois países.
Fase 1
O ponto fundamental do acordo é a promessa chinesa de comprar US$ 200 bilhões em produtos norte-americanos do setor de serviços, agrícola e de energia, entre 2020 e 2021, da seguinte forma:
• compra, por parte da China, de US$ 12,5 bilhões em produtos agrícolas americanos em 2020 e US$ 19,5 bilhões em 2021;
• compra, por parte da China, de US$ 18,5 bilhões em produtos do setor de energia dos EUA em 2020 e US$ 33,9 bilhões em 2021;
• compra, por parte da China, de US$ 32,9 bilhões em manufaturados americanos em 2020 e US$ 44,8 bilhões em 2021;
• compra, por parte da China, de US$ 12,8 bilhões em serviços norte-americanos em 2020 e US$ 25,1 bilhões em 2021.
Além disso, há previsão de punição aos dois países por espionagem, solução para disputa de patentes em medicamentos, redução de entraves para entrada de serviços financeiros norte-americanos na China e ingresso do seguro de vida e previdência privada americanos no país asiático.
Fase 2
A fase 2 do acordo entre EUA e China ainda está sendo discutida, mas já há consenso de que essa nova etapa pode não ser um “big bang”, a remover de uma vez todas as tarifas remanescentes existentes. Não há ainda data para essa próxima etapa de ajuste sair do papel.
Quais são os possíveis impactos do acordo entre EUA e China na economia e nas ações?
Há muitos impactos possíveis nesse alinhamento entre China e Estados Unidos, os quais mudam a dinâmica do futuro do consumo.
Impactos na economia mundial
Em pleno ápice da maior crise sanitária dos últimos 100 anos (causada pelo Sars-Cov-2, agente viral da COVID-19), o tão sonhado fim da guerra comercial entre China e EUA não significará o fim da recessão global que os analistas almejavam inicialmente.
Entretanto, facilita o intercâmbio de materiais, inclusive Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) da área médica, além de potencializar a retomada do fôlego de setores norte-americanos severamente atingidos pela crise.
O fluxo de importações chinesas de países que serviram como “alternativas” na guerra com os EUA, entretanto, pode sofrer redução significativa.
Impactos para o Brasil
Durante o período de guerra comercial, os chineses compraram US$ 10 bilhões do Brasil, montante aportado sobretudo no agronegócio nacional (que representa 5% dos US$ 223 bilhões totais exportados pelo país em 2019).
Embora não se saiba tão bem como se dará a compra dos mais de US$ 200 bilhões em produtos norte-americanos, estima-se que a demanda da China sobre commodities brasileiras seja impactada com o iminente acordo entre as duas nações.
Há igualmente previsão de aumento da pressão sobre o preço da soja brasileira, diante da estimativa de que as exportações desse produto à China recuem até 10 milhões de toneladas.
O setor de carnes também deve sofrer os impactos do acordo entre EUA e China, mas não necessariamente negativo. Isso porque assistimos atualmente à alta nas exportações de proteínas por conta da gripe suína africana na China.
Mesmo que esse movimento venha a se arrefecer com o ajuste entre Estados Unidos e China, o fato de a maior processadora de proteína animal do país (JBS) ter 70% do seu Ebitda decorrente de negócios em terras norte-americanas pode favorecer as ações da empresa.
Então, chegamos ao fim por hoje. Compreendeu todas as nuances do acordo entre EUA e China? Para quem lida com investimentos em ações ou negociação no mercado futuro, é preciso preparar-se para modular sua carteira de acordo com as consequências desses ajustes!