Falar de dinheiro sempre traz controvérsias. Esse é um assunto polêmico demais, mas não deveria. Afinal, qual ser humano que não gosta de consumo e economia? Bem, eu decidi escrever sobre esse tema, pois quero trazer um pouco de luz sobre ele, desmitificar um monte de coisas que se lê por aí e tentar ajudar você a chegar ao nível de consumidor consciente.
Quer ver um exemplo? A maioria das pessoas pensa que economizar significa passar por alguma escassez… errado! Economizar significa ter metas financeiras hoje para gastar com sustentabilidade lá na frente; é fazer escolhas certas com um propósito mais amplo e menos imediatista.
Você precisa dar o devido valor ao seu dinheiro, não pode trabalhar o mês inteirinho e depois gastar em poucas horas tudo de uma vez. É isso que chamamos de consumo consciente. Vamos entender mais sobre o assunto?
Como ser um consumidor consciente?
O que é consumo consciente?
Você tem as características de um consumidor consciente? Como semear a cultura da poupança em sua casa, em meio a uma sociedade que mensura o tamanho de cada um pelas suas posses? Eu confesso que demorei para entender.
Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento da tecnologia ampliou exponencialmente a produção no planeta, impondo às indústrias um enorme esforço para escoar toda essa mercadoria a um mercado consumidor finito e com recursos limitados. Nesse contexto, o marketing ganhou grande destaque, mais ou menos como uma “ciência da criação artificial das necessidades”.
Dentro desse cenário, o ato de consumir foi se tornando uma das atividades mais relevantes na criação da identidade social de cada um. É no consumo que as pessoas se reconhecem; são os hábitos de compra que reúnem os indivíduos em seus grupos sociais. De repente, viramos uma sociedade “que é pelo que tem”, na qual as pessoas passaram a ser julgadas pelas suas posses.
Some a essa influência cultural as facilidades do crédito e o aumento da renda das famílias, e então você terá a fórmula ideal para uma tragédia nacional. Essa fórmula ajuda a explicar por que temos hoje 63 milhões de inadimplentes no Brasil.
Você acreditaria se eu dissesse que apenas 8% dos brasileiros conseguiram guardar algum dinheiro em 2018? Esse contexto nos faz questionar se os outros 92% trabalham para viver ou vivem para trabalhar. Isso não é consumo consciente.
O consumidor consciente é aquele que leva em conta, durante a decisão de compra, o equilíbrio entre a satisfação pessoal e suas limitações financeiras. O comprador que analisa os impactos ambientais e sociais de sua aquisição, utilizando-a de forma racional e sustentável, é capaz de evitar excessos e endividamentos.
Esse indivíduo adquire apenas o necessário à sua vida, não se submete ao discurso do mercado publicitário, reflete sobre as consequências da aquisição antes de efetivá-la, foge do desperdício e se preocupa em saber qual a consequência que cada produto pode ter na sociedade como um todo.
Focado em questões como reaproveitamento, sustentabilidade e investimentos, esse consumidor tem facilidade para multiplicar seu patrimônio, gerando um círculo de enriquecimento e consumo “livre” de dívidas.
Que benefícios do consumo consciente pode trazer?
Existem inúmeras razões para se tornar um consumidor consciente. A primeira delas é que o Brasil tem uma das mais baixas taxas de poupança do planeta — e isso pode afetá-lo em muita coisa.
Essa cultura do “vamos gastar tudo hoje que amanhã é outro dia” tem consequências práticas. Tem alguma pista? Que tal falarmos de INSS? A falta de uma poupança constrói uma geração de idosos excessivamente dependentes do Estado, o que explica por que o rombo da previdência deve chegar a R$ 309 bilhões em 2019.
Deixar de ser um consumidor consciente faz com que seu futuro fique nas mãos de uma previdência pública que está em crise. Isso é tão seguro quanto estar em alto-mar no meio da madrugada, em uma tempestade violenta e a bordo de um barco a vela. Compreende onde quero chegar?
E se a aposentadoria pública deixar de existir no futuro? Quanto você tem aplicado para se sustentar? Pesquisas mostram que mais de 66% dos aposentados ganham, hoje, apenas 1 salário mínimo. Se o INSS ainda existir daqui a 30 anos, você conseguirá sobreviver com esse valor?
Então, voltemos ao nosso tema de consumo consciente. Quem passou a vida em uma relação saudável com o dinheiro poupou mais, multiplicou seu patrimônio e certamente chegará à terceira idade desfrutando, de fato, o que se chama de “melhor idade”.
Mas há ainda outras muitas vantagens de ser um consumidor consciente além de livrar-se da perigosa dependência do Estado — caso de quem separa desde cedo parte de seu orçamento para aplicar em planos de previdência privada. Conheça alguns benefícios:
• viver livre de dívidas;
• ter maiores possibilidades de enriquecer;
• estar permanentemente com disponibilidades financeiras para aproveitar oportunidades;
• poder usar parte de seu capital em momentos de emergência;
• ter o privilégio de ocupar menos tempo pensando em dinheiro e mais em sua família ou em outros assuntos que tragam felicidade;
• prover melhor qualidade de vida a quem você mais ama;
• estimular uma indústria que ajude a preservar o meio ambiente.
Você precisa efetuar essa compra nesse momento?
Entenda algo de uma vez por todas: comprar é um ímpeto totalmente emocional! O que você acha que a indústria da propaganda faz com você na hora de anunciar um produto?
Eles mexem com sua estrutura emocional e fazem você acreditar que precisa daquele produto ou serviço. Querem que você creia que se não tiver determinada mercadoria naquele momento, estará em grande desvantagem em relação ao restante da humanidade.
E se você não é um consumidor consciente, isso automaticamente gera em você um desejo enorme de comprar por impulso. Mas e quanto às suas condições financeiras?
Ah, isso não importa muito para suas conexões nervosas, que emitem comandos para liberação de serotonina (hormônio responsável pela sensação de prazer e bem-estar) sempre que você decide se dirigir ao caixa com aquela peça dos sonhos.
Nessa hora, você não está pensando que o rotativo do cartão de crédito está em 298,6% ao ano, tampouco que os juros do cheque especial subiram para 322,2% em 2019. Falta razão e sobra o prazer instantâneo que aquela compra vai gerar nos primeiros dias de uso.
Isso é, claramente, um consumo inconsciente. A expectativa dura apenas algumas horas e não tarda a trazer arrependimento, frustração pelo descontrole e, é claro, uma situação financeira um pouco mais enrolada com os gastos desnecessários.
Você pode estar pensando que esse não é o seu caso, pois você é perfeitamente responsável por suas decisões de consumo e plenamente capaz de dar o rumo certo ao seu dinheiro. Mas a questão aqui é que isso acontece, na maioria das vezes, de forma inconsciente.
Vou lançar um desafio: pense em algo que você comprou e depois se arrependeu amargamente, ou até mesmo que você nunca tenha usado. Não é difícil concluir que não temos tanto controle assim, não é mesmo? Ser consumidor consciente exige uma mudança de paradigmas.
Bem, então preste atenção nessa dica: deu muita vontade de comprar algo? Aguarde por mais ou menos 7 dias e repense essa necessidade. Nada é tão raro assim que esteja a ponto de nunca mais ser produzido na Terra.
Dessa forma, independentemente do que seja, é possível adiar sua compra. Acreditem, na semana seguinte, seu produto estará na mesma posição na gôndola, por mais que o vendedor queira convencê-lo do contrário. Evitar comprar por impulso é um ato simples, mas dá um resultado fantástico!
Quem mais vai ganhar com essa compra?
Um dos pontos mais importantes do consumo consciente é se perguntar quem mais vai ganhar com a compra. Não estou falando que você precisa comprar um tênis que todos vão usar, mas sim que um consumidor consciente é aquele que consegue colocar na balança os prós e contras de uma aquisição.
Você conhece alguém que tudo o que faz ou compra é pensando apenas em si mesmo? Logo que tive meu primeiro filho, há 19 anos, passei por uma situação que hoje é engraçada, mas, na época, me deixou com muita raiva!
Morávamos em um local em que só passava uma linha de ônibus, e eu sempre aguardava por mais de uma hora no ponto com um bebê no colo. Aquilo era cansativo e estressante.
A vida não estava fácil para nós, mas em certo momento foi dada ao meu marido a oportunidade ímpar de comprar um automóvel. Não dá para explicar a alegria que sentimos, pois além de ser uma necessidade que tínhamos, as condições de pagamento se encaixavam em nossa programação financeira.
O pior vem agora: ele foi comprar o carro, mas com apenas 19 anos — e nenhum temor pela própria vida —, retornou com um sorriso no rosto e uma… moto.
Isso foi fruto da imaturidade (e até de egoísmo). O fato de ele pensar que a moto seria um transporte mais barato e mais rápido para o trabalho não o livrou da culpa de ter comprado um bem desse porte sem pensar na família. Esse é um belo exemplo de consumo inconsciente.
Consumo e consumismo são a mesma coisa?
Neste texto estamos falando de consumismo, não de consumo. Caso ainda não tenha ficado clara a diferença entre esses dois conceitos, fique tranquilo: eu explico!
O consumo é quando a ação de comprar está intimamente ligada à precisão, à falta ou à sobrevivência. O consumismo, por sua vez, está ligado ao “ter” como símbolo de poder. Há, portanto, uma clara distinção entre necessidade e vontade de comprar.
Quando você consegue entender essa distinção, fica muito mais fácil não cair em uma das milhões de tentações que normalmente nos rodeiam diariamente. Por exemplo: compre 3 e leve 4. Ora, se você consome apenas 2 unidades desse produto por mês, por que levar 4?
“É porque eu vou deixar de comprar no mês que vem.” Não, isso é improvável. O mais lógico é que essa promoção se repita no mês seguinte, e você torne a comprar 4 itens de algo que só consome a metade. Ou seja, em 2 meses, ficará com 4 itens encalhados em sua casa — e alguns reais mais pobre.
Algumas vezes, você nem precisa do produto, mas a sensação de ganhar algo ou, mais do que isso, de estar em vantagem, acaba levando à decisão de adquirir uma coisa que, na verdade, nem precisa. Isso também é consumo inconsciente.
Como envolver a sua família?
Eu simplesmente amo falar sobre economia e família. E vou te dizer uma coisa: para alcançar o nirvana do consumidor consciente nunca, eu disse nunca, inicie qualquer planejamento financeiro para a família sem comunicar seus filhos, principalmente se você tem adolescente. Eles são presas fáceis do canto da sereia do consumo.
Há algum tempo, atendi uma executiva muito bem-sucedida em sua área, porém, com finanças que não condiziam com o que ganhava. Um salário de quase R$ 18.000, uma dívida chegando às portas dos R$ 300.000 e 2 adolescentes que todos os finais de iam para as baladas mais caras do Rio de Janeiro.
Iniciamos um plano de ação, mas, no final de semana seguinte, ela me ligou chorando, dizendo que os filhos não colaboravam, e que ela nunca ia conseguir sair do vermelho por causa deles.
Nós, pais, sabemos que criar um filho atendendo somente às suas necessidades mais básicas já custa um valor muito alto. Se esses filhos não recebem educação financeira logo na primeira infância, fica ainda mais difícil controlar a situação na adolescência. Tornar seu filho um consumidor consciente é chave para o sucesso da economia de toda a família.
A maior dificuldade de fazer seu filho aprender a poupar na fase “teen” ocorre por motivos óbvios: chegam as festas, as baladas, a visão de viver tudo em 1 segundo e, é claro, a necessidade de entrar no círculo vicioso do status.
Sim, filhos também querem posses para mostrar ou provar algo a alguém. Então, se você não quer filhos consumistas, precisa estabelecer isso logo cedo. Mas se eles já estão grandinhos e você já identificou um perfil de consumistas inconscientes, é hora de falar sério.
Apresente a eles as reais necessidades da família e deixe claro que o comportamento atual não está de acordo com essas necessidades e, o pior, atrapalha a família a chegar onde realmente precisa.
Quando minha cliente entendeu que precisava fazer com que seus filhos enxergassem a real necessidade da família, ela ganhou 2 aliados. Mas isso só foi possível após ela abrir o jogo e mostrar as dívidas da família, o planejamento e as consequências das baladas.
Filhos são inteligentes, não os prive jamais de saber a verdade. Um dia eles seguirão o próprio caminho e toda a informação que você puder passar agora sobre finanças — e, principalmente, sobre consumo — será de extremamente válida.
Qual o funcionamento de uma casa onde há consumo inteligente?
O funcionamento de uma casa diz respeito ao tipo de criação que damos aos nossos filhos, aquilo que achamos importante para nossa família, dentre outros detalhes não menos importantes. Tudo isso está ligado à nossa consciência de consumo (ou à falta dela).
Vou citar alguns exemplos de funcionamento da minha casa. Eu e meu marido trabalhamos juntos há cerca de 15 anos em nossa empresa de tecnologia e nossa carga horária de trabalho era muito pesada — já chegamos a trabalhar cerca de 20 horas por dia em alguns períodos.
Nessa época, era comum fazer todas as refeições fora de casa, inclusive café da manhã. Para uma família com dois adolescentes na época (meu caçula ainda não havia nascido), o custo era bem alto.
Nos fins de semana, eu não trabalhava, mas também não cozinhava, dado que já estava exausta e precisava reunir forças para a próxima semana. Com isso, todas as refeições do fim de semana também eram feitas fora de casa, mas, por serem ocasiões especiais, era necessário que esses momentos de prazer tomassem forma em um restaurante diferente… que tal um mais requintado?
Moral da história: os gastos somente com refeição eram altíssimos. Um dia, parei para calcular esse valor e fiquei em choque por mais ou menos 2 horas.
O que faltava na minha vida era organização financeira. Quando eu comecei a reorganizar meus horários e dar novos direcionamentos à minha rotina, essa quantia de dinheiro antes gasta com restaurantes diminuiu drasticamente. Foi o start para adquirir a visão de mundo de um consumidor consciente.
Mas não parou por aí! Comecei a perceber que íamos à academia, no máximo, 2 vezes ao mês, pagando por planos semestrais. Adivinha o que fiz? Cortei academia e começamos a fazer exercícios ao ar livre. E, no embalo dos bons resultados financeiros, as mudanças continuaram.
TV por assinatura é status para quem passa 70% do dia fora de casa e chega à noite apenas para dormir, concorda? Não demorou muito para percebermos que não tínhamos tempo e nem vontade alguma de assistir nada na TV; então, liguei para a operadora e cancelei o plano “premium”.
Esses cortes foram todos de comum acordo com a família. E até hoje nos permitimos um mimo quando cortamos alguma coisa que vai nos dar um retorno financeiro bom.
Cada um tem um papel importante quando o assunto é disciplina financeira. Se você mora no Brasil, por exemplo, vai concordar comigo que energia elétrica é quase um artigo de luxo.
Assim, tive a ideia de nomear um dos filhos como responsável por checar se as luzes estão apagadas quando o ambiente está vazio — o outro é responsável pela feira. Festas sociais entre amigos da escola está liberada 1 vez ao mês. Isso é família com total consciência de consumo. Precisa haver essa sintonia e concordância para que dê certo!
De que forma colocar o consumo consciente na prática?
Tornar-se um consumidor consciente exige mais do que autocontrole ao passar por uma vitrine; exige uma mudança completa de mentalidade e hábitos de vida. Você pode começar essa transformação seguindo algumas dicas básicas. Confira!
Mapeie suas finanças
Não dá para criar um objetivo futuro se você não sabe a sua situação atual, correto? Então, se você quer melhorar sua relação com o consumo, o primeiro ponto é sistematizar as suas receitas e despesas. Isso é o básico de um consumidor consciente.
Todos os gastos e ganhos devem ser colocados em uma planilha ou aplicativo. Absolutamente tudo, inclusive aquela cerveja do happy hour, aquela bolsinha baratinha do camelô, aquele brinco irresistível que você comprou do catálogo da colega de trabalho… enfim, tudo.
Sabe quando você arruma suas gavetas e descobre que tinha muito mais coisas para jogar fora do que imaginava? Matematizar suas despesas domésticas vai revelar possíveis economias de onde você nem sonhava.
Renegocie despesas
Você viu meu exemplo acima? Academia, TV a cabo, celular, você não precisa cortar tudo. Uma simples redução dos planos pode gerar uma receita extra entre 30% e 40%.
Elimine as compras a prazo de seu dicionário
Tem muita gente que diz que não consegue economizar, mas paga parcelas de empréstimo ao banco todos os meses. Qual o sentido de usufruir algo agora, mas pagar o dobro do preço amanhã (contando com os juros), sendo que, com apenas mais alguns meses de espera, você teria o mesmo bem, a custo 50% menor?
Viu como estamos falando de mudança de mentalidade? Consumidor consciente sabe que quando paga à vista economiza 2 vezes: nos juros que deixa de pagar e no menor preço à vista (por conta do poder de barganha de pagar de uma vez).
Faça um investimento de longo prazo
Falamos anteriormente dos riscos de depender do INSS. Mas se você começar desde já a aplicar em um plano de previdência privada, não perderá o sono ao ver no telejornal que a reforma da previdência aumentou o tempo mínimo de contribuição até os 65, 70, 90 anos. Ao investir ao longo da vida, será você quem decidirá a hora de parar.
Da mesma forma, se uma fatalidade impedisse você de trabalhar, quem sustentaria seus filhos? Ou quem ajudaria seus pais na velhice? Se você é consumista, faça o exercício de deslocar seu consumo, dos produtos inúteis, para investimentos que vão mudar o seu futuro e o de quem você mais ama.
Imagine em caso de diagnóstico de doença grave ter o respaldo financeiro de um seguro de vida? Imagine também não poder estar perto de seus filhos no futuro, mas deixar a eles um capital que permitiria a eles estudar e crescer com qualidade de vida, exatamente como você sonhou?
E se eu disser que isso é possível por meio de um seguro de vida que custa menos de R$ 50? Considerando que as pessoas acham normal pagar R$ 3 mil ao ano para segurar um carro, quanto valeria a pena pagar para proteger sua família?
São essas reflexões sobre o que realmente vale a pena que devem fazer parte dos pensamentos de quem quer se tornar um consumidor consciente. Entender o que de fato importa e usar isso para balancear suas decisões de compra é algo crucial.
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